A Mudança

12-07-2020 17:18

Durante muitos anos da minha vida ativa, tenho trabalhado em turnos na empresa onde trabalho. Em vez de começar a trabalhar às oito da manhã, era muito frequente às duas da tarde. Antes do dia 13 de Setembro de 2018, a data da minha última aposta, a excitação e adrenalina de uma manhã livre para apostas online era brutal. Eu podia fazer o que quisesse durante horas sem sentir pressão do Mundo. Este sentido deturpado de liberdade e aventura, era de facto a minha doença, falando comigo, atraindo-me para todas as formas de jogos de azar. Tipicamente, um desses dias progredia no seguinte formato: Acordava (após uma noite de sono perturbado com ansiedades), pegava no smartphone e sem planos nem agenda, instantaneamente o meu tempo era todo tornado livre em torno do jogo com uma verdadeira sensação de excitação. Nem pequeno-almoço, nem higiene pessoal, nem nada. Se possível ainda tirava uns 10 minutos para tomar um duche rápido e colocar a minha “máscara” que criei para mim e ajo com “amor extra aparente” para a minha namorada; um pouco de manipulação antes de voltar a causar mais alguns danos. Eu mentiria com os meus dentes todos em relação ao que eu estava a fazer. Cada manhã livre para insanidade, eu temia a possibilidade de ela tirar a manhã de folga quando ela insinuava que poderia, para poder estar comigo. Por dentro, eu grito: "Não!” Assim que a tinha visto partir, voltava ao meu mundo, deixando todo o lixo por despejar… Trabalharia o mais rápido que pudesse para criar uma ilusão que tinha realmente feito algo útil. As vãs promessas que fazia a mim próprio de controlar o meu jogo, falham como sempre e mais uma vez, mas eu não me importaria. Oh, a excitação! Depois continuaria a passar o máximo de tempo possível porque quantas mais as apostas e mais breves, mais possibilidades teria de ganhar dinheiro. Só desistia e desesperava quando desaparecia o último euro. E não demoraria muito antes de estar a correr como um louco, para trás e para a frente, uma e outra vez para o multibanco. Eu usaria o meu telefone para solicitar um empréstimo a um amigo ou um adiantamento do meu patrão, ou talvez implorar ao meu pai para transferir um dinheiro para cobrir alguma reparação ou outra que simplesmente não existe. Por vezes, eu faria as duas coisas, não fosse alguma falhar. Entretanto chegou mais combustível para continuar a jogar. Se a sorte fosse breve, posso acabar por comer um snack qualquer ou alguma porcaria barata, mas se havia uma fila, na verdade, eu preferia morrer à fome. Prefiro o meu telemóvel que me dá a palpitação que preciso. Entretanto e dinheiro acabou. Abatido ainda tenho de trabalhar hoje e só penso numa boa desculpa fiável e um bom “alvo” para voltar a pedir dinheiro. Não tenho crédito de ninguém. Chego para o trabalho, com um aspecto horrível, suando, a minha cabeça no peito e um olhar vago, vazio. É simplesmente humilhante… Decidi pedir ajuda porque não estou bem. Descubram as diferenças: Depois de frequentar algumas reuniões de Jogadores Anónimos, acordo a ouvir os pássaros (nem sabia que eles já lá estavam no passado) que cantam fora do meu quarto. Estou a sentir-me sereno. Planeio o meu tempo livre em torno da minha recuperação., depois posso tranquilamente fazer e tomar e apreciar o meu pequeno-almoço. Sinto-me óptimo, posso depois praticar algum exercício ao ar livre ou ir ao ginásio. Paro numa loja para comprar uma flor para a minha namorada. E um cartão para o nosso aniversário de amanhã. Estou apresentável. Fiz o almoço para poupar algum dinheiro, e o suficiente extra para que o jantar fosse especial. Vou poder abraçar a minha namorada. Em JA ouvi as semelhanças, partilhei o que precisava de partilhar e recebi a magia em troca. Quando vou trabalhar tenho tempo de sobra, o que me permite fazer as coisas certas, com um sorriso no rosto. Que mudança! Um milagre? Houveram muitos! O meu nome é Luís e sou jogador.